A importância da disciplina metodologia científica no curso de formação do tecnólogo em Segurança Pública

Autor: André Luís Luengo Doutor em Direito Constitucional e Delegado de Polícia

Resumo

O presente artigo analisa a relevância da disciplina de Metodologia Científica no curso de formação do Tecnólogo em Segurança Pública. A formação acadêmica voltada à segurança pública requer a integração entre prática profissional e fundamentação teórica. Nesse contexto, a metodologia científica apresenta-se como disciplina essencial, pois desenvolve habilidades de pesquisa, senso crítico e rigor acadêmico, imprescindíveis à atuação do tecnólogo. A abordagem considera os referenciais teóricos sobre metodogolia no aspecto da coleta e análise dos dados.

Palavras-chave: Metodologia científica; Segurança pública; Ensino superior; Tecnólogo; Pesquisa.

Introdução

O ensino superior na área de Segurança Pública tem passado por significativas transformações nos últimos anos, em razão das demandas sociais por maior eficiência, transparência e fundamentação técnica das ações dos profissionais de segurança. 

Nesse cenário, o curso de Tecnólogo em Segurança Pública surge como alternativa de formação prática, mas que exige a integração com disciplinas que fomentem pesquisa e reflexão crítica. 

A disciplina de Metodologia Científica é essencial para capacitar o discente na elaboração de trabalhos acadêmicos, relatórios técnicos e diagnósticos sociais aplicáveis ao campo profissional. 

Além disso, contribui para a construção de um pensamento reflexivo, permitindo que o futuro tecnólogo compreenda os fenômenos sociais e criminais a partir de uma perspectiva científica. 

Mas há um contexto de que a metodologia científica tenha o seu próprio objetivo no aspecto da coleta e análise dos dados.

Fundamentação Teórica

A Metodologia Científica, enquanto disciplina acadêmica, tem como objetivo desenvolver nos estudantes a capacidade de compreender, planejar e executar pesquisas. 

Segundo Lakatos e Marconi (2017), a pesquisa científica é essencial para a construção do conhecimento e para a formação de profissionais críticos e reflexivos.

No âmbito da Segurança Pública, a pesquisa assume papel fundamental para subsidiar políticas públicas e estratégias de prevenção e repressão criminal, a partir da coleta e análise dos dados.

Beato Filho (2012) destaca que a criminologia e a segurança pública só podem avançar mediante estudos sistemáticos que revelem a complexidade do fenômeno criminal. 

Assim, a metodologia científica contribui diretamente para o desenvolvimento de práticas profissionais mais eficazes.

A Metodologia Científica na Formação do Tecnólogo em Segurança Pública

O curso de Tecnólogo em Segurança Pública, de caráter multidisciplinar, exige a articulação entre teoria e prática. 

A metodologia científica se apresenta como ferramenta que permite ao discente desenvolver trabalhos de conclusão de curso, no caso do tecnólogo com a sua capacitação para análises de dados e diagnósticos sociais aplicáveis ao campo profissional.

Nesse contexto, a metodologia científica deve ser compreendida como instrumento para buscar, analisar e interpretar dados alusivos à segurança pública, a partir de fontes oficiais (como os anuários de segurança, estatísticas criminais e relatórios governamentais) e também de estudos empíricos produzidos em âmbito acadêmico. 

Essa tríade – busca, análise e interpretação – permite que o tecnólogo em formação não apenas compreenda a realidade social em que está inserido, mas também elabore propostas de implantação para políticas públicas.

Panorama Estatístico da Segurança Pública no Brasil

A utilização da metodologia científica aplicada à segurança pública exige contato direto com dados estatísticos atualizados. 

Os indicadores recentes revelam a dimensão dos desafios e as tendências que podem orientar políticas públicas.

  • Em 2024, o Brasil registrou 35.365 homicídios dolosos, uma queda de 6,3 % em relação a 2023 (37.754 casos) (BRASIL, 2025a).
  • Houve 44.127 Mortes Violentas Intencionais (MVI) em 2024, com taxa de 20,8 mortes por 100 mil habitantes, representando uma redução de 5,4 % em relação a 2023 (FBSP, 2025).
  • O Atlas da Violência 2025 destacou que, em 2023, ocorreram 45.747 homicídios, correspondendo à menor taxa da série histórica recente: 21,2 homicídios por 100 mil habitantes (IPEA; FBSP, 2025).
  • Levantamento sobre homicídios ocultos apontou que, entre 2013 e 2023, aproximadamente 51.608 mortes não foram oficialmente registradas como homicídios, revelando significativa subnotificação (FBSP, 2025b).
  • Em alguns estados, as reduções foram expressivas: no Paraná, por exemplo, os homicídios dolosos caíram 10 % e os roubos 23,7 % em 2024 (SESP-PR, 2025).

Tabela 1 – Indicadores de Segurança Pública no Brasil (2023–2024)

Indicador20232024Variação
Homicídios dolosos37.75435.365–6,3 %
Mortes Violentas Intencionais (MVI)46.67644.127–5,4 %
Taxa de homicídios (por 100 mil)21,220,8–1,9 %
Homicídios ocultos (estimativa acumulada 2013–2023)51.608

Fonte: Mapa da Segurança Pública 2025; Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025; Atlas da Violência 2025.

Esses números evidenciam não apenas a relevância de análises quantitativas, mas também a necessidade de interpretações críticas que considerem fatores sociais, econômicos e institucionais relacionados à criminalidade.

Metodologia Científica e Políticas Públicas

Com base nesses dados, o estudante de segurança pública pode desenvolver pesquisas científicas que auxiliem na formulação e avaliação de políticas. 

A metodologia científica orienta:

  • Definição de hipóteses: por exemplo, a hipótese de que a queda nos homicídios estaria relacionada ao aumento do investimento em policiamento comunitário ou inteligência policial.
  • Escolha de métodos de coleta: uso de bancos de dados oficiais (Mapa da Segurança, Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Atlas da Violência).
  • Emprego de métodos quantitativos: análise de séries temporais, correlações e modelos estatísticos.
  • Identificação de vieses e limitações: consideração das subnotificações de homicídios.
  • Interpretação crítica: análise contextualizada dos resultados, levando em conta desigualdades regionais e fatores socioeconômicos.

Dessa forma, a metodologia científica deixa de ser uma disciplina meramente acadêmica e se transforma em um instrumento estratégico para compreender a realidade e formular políticas públicas mais eficazes.

Considerações Finais

A disciplina de Metodologia Científica não deve ser entendida como mera formalidade acadêmica, mas como elemento essencial à formação do tecnólogo em segurança pública. 

Ao estimular a pesquisa, a reflexão crítica e a produção de conhecimento, ela contribui para a consolidação de uma segurança pública mais eficiente, embasada em evidências e comprometida com os princípios democráticos.

A metodologia científica para o teconologo em segurança pública serve para a aplicação de técnicas de coleta e interpretação de dados para embasar diagnósticos, avaliar políticas de segurança, planejar operações e formular estratégias de prevenção e repressão.

Por meio dela esse profissional irá produzir evidências objetivas que sustentem políticas públicas e decisões de gestão policial, evitando achismos ou práticas empíricas sem base científica.

Portanto, a inclusão e valorização desta disciplina nos currículos de formação é medida indispensável para assegurar profissionais capacitados não apenas para agir, mas também para pensar estrategicamente a segurança pública.

BEATO FILHO, Claudio Chaves. Crime e cidades. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei nº 13.675, de 11 de junho de 2018. Dispõe sobre a organização e funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública. Brasília: Presidência da República, 2018.

BRASIL. Mapa da Segurança Pública 2025. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2025a.

FBSP – Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: FBSP, 2025.

______. Homicídios ocultos e estimados no Brasil. São Paulo: FBSP, 2025b.

IPEA; FBSP. Atlas da Violência 2025. Brasília: IPEA; São Paulo: FBSP, 2025.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações. 3ª. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23ª. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

SESP-PR. Anuário Estadual de Segurança Pública 2025. Curitiba: Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná, 2025.

SILVA, Enid Rocha Andrade da; BARBOSA, Ana Paula. Segurança pública e cidadania: desafios e perspectivas. Brasília: IPEA, 2018.

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