
André Luís Luengo – Doutor em Direito Constitucional e Delegado de Polícia.
Resumo
O artigo analisa o Curso de Tecnólogo em Segurança Pública sob a perspectiva da formação por competências e da consolidação do perfil de competidor como eixo estruturante do processo educativo. Fundamentado na Lei nº 9.394/1996 (LDB) e na Lei nº 13.675/2018, que institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), o estudo destaca a integração entre teoria e prática, o uso de metodologias ativas e a valorização da experiência profissional prévia dos discentes. O perfil de competidor é abordado como uma construção cognitiva, técnica e comportamental voltada à alta performance e à gestão por resultados, capacitando o tecnólogo a atuar com eficiência, ética e inovação. A pesquisa enfatiza ainda a adoção do modelo andragógico e do ensino baseado em competências, no qual a aprendizagem é mediada por situações reais, estudos de caso e simulações operacionais. Identifica-se que o egresso adquire competências estratégicas para atuar em múltiplos segmentos — públicos e privados —, mantendo-se competitivo diante das transformações tecnológicas e das novas formas de criminalidade. Conclui-se que o Tecnólogo em Segurança Pública é um gestor de resultados, comprometido com a excelência institucional e com a consolidação de uma segurança pública inteligente, eficiente e socialmente legítima.
Palavras-chave: Formação tecnológica; Segurança pública; Perfil de competidor; Alta performance; Gestão por resultados.
1. Introdução
A complexidade das dinâmicas sociais contemporâneas impõe à segurança pública desafios que ultrapassam o mero enfrentamento operacional da criminalidade. As transformações tecnológicas, o aumento da demanda por transparência e a necessidade de políticas baseadas em evidências exigem profissionais com formação sólida, visão sistêmica e capacidade analítica.
Nesse contexto, o Curso de Tecnólogo em Segurança Pública constitui uma resposta estratégica à nova realidade da gestão da segurança, promovendo uma formação técnica, científica e ética voltada à eficiência institucional e à proteção cidadã.
O perfil de competidor configura-se como o eixo central dessa proposta pedagógica. O tecnólogo é formado para atuar com proatividade e pensamento estratégico, integrando conhecimento jurídico, tecnológico e administrativo à prática policial e à gestão da segurança. Mais do que executar ordens, o profissional é preparado para planejar, decidir e avaliar resultados, aplicando ferramentas modernas de gestão, análise de dados e inovação institucional.
Essa postura competitiva traduz-se em melhoria contínua de desempenho, otimização de recursos, redução de índices criminais e fortalecimento da legitimidade das instituições de segurança pública perante a sociedade.
2. Fundamentos da Formação Tecnológica em Segurança Pública
A formação tecnológica em Segurança Pública estrutura-se sobre uma base interdisciplinar que integra o conhecimento científico às práticas operacionais e gerenciais do campo policial.
A matriz curricular do curso combina disciplinas teóricas, como Direito Penal, Criminologia, Política de Segurança e Ética Profissional. Os componentes aplicados são voltados à resolução de problemas reais, como Gestão de Crises, Inteligência Policial, Planejamento Operacional e Tecnologias da Informação aplicadas à Segurança.
Essa articulação entre teoria e prática confere ao tecnólogo a capacidade de analisar cenários complexos, tomar decisões fundamentadas e atuar com eficiência em contextos de alta exigência institucional.
O embasamento jurídico-pedagógico dessa formação decorre da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB), que reconhece os cursos superiores de tecnologia como modalidade de ensino superior orientada à aplicação prática do conhecimento científico e à inovação profissional.
Complementarmente, a Lei nº 13.675/2018, que institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), estabelece diretrizes para a integração das forças de segurança e para a qualificação técnica e científica de seus agentes, reforçando a função estratégica do curso tecnólogo como instrumento de modernização da gestão pública e de valorização profissional.
Nesse sentido, o Curso de Tecnólogo em Segurança Pública não se limita à capacitação técnica, mas constitui um projeto formativo voltado à excelência institucional, alinhado aos princípios da eficiência, legalidade e legitimidade que orientam a atuação policial no Estado Democrático de Direito.
3. O Perfil de Competidor na Formação do Tecnólogo
O perfil de competidor representa o eixo identitário do Curso de Tecnólogo em Segurança Pública, traduzindo a capacidade do profissional de se destacar em um ambiente institucional cada vez mais orientado por resultados, inovação e responsabilidade social.
Em um contexto de escassez de recursos, complexidade normativa e crescente cobrança por eficiência e transparência, o tecnólogo deve atuar como agente transformador, capaz de aliar desempenho técnico, pensamento estratégico e conduta ética.
Esse perfil é estruturado em três dimensões fundamentais:
a-Dimensão Cognitiva: refere-se à capacidade analítica e reflexiva do profissional, que deve compreender o fenômeno da segurança pública sob múltiplas perspectivas: jurídica, sociológica, psicológica, tecnológica e administrativa. Essa dimensão estimula o pensamento crítico e a aprendizagem contínua, permitindo ao tecnólogo interpretar dados, avaliar políticas públicas e formular diagnósticos precisos baseados em evidências científicas.
b-Dimensão Técnica: abrange o domínio de metodologias e ferramentas aplicadas à gestão e à investigação, como análise criminal, inteligência policial, gestão de riscos, planejamento estratégico e uso de tecnologias da informação. O domínio técnico confere ao profissional capacidade operacional ampliada, integrando eficiência procedimental e inovação tecnológica às demandas concretas da segurança pública contemporânea.
c-Dimensão Comportamental: compreende atitudes e valores que sustentam o desempenho ético e colaborativo, como resiliência, disciplina, liderança, comunicação assertiva e responsabilidade institucional. Essa dimensão garante que o tecnólogo atue de forma proativa e equilibrada, cultivando a motivação para competir não contra colegas, mas em favor do aprimoramento institucional e do serviço público de qualidade.
A partir dessa estrutura tridimensional, o egresso é preparado não apenas para executar tarefas operacionais, mas para competir em nível estratégico, propor soluções inovadoras, assumir funções de liderança e contribuir para o fortalecimento das organizações públicas e privadas de segurança.
O perfil de competidor no contexto da formação tecnológica representa uma mudança de paradigma na cultura organizacional da segurança pública. Ele rompe com o modelo burocrático e passivo de atuação e introduz uma lógica baseada em desempenho, inovação e governança por resultados.
O tecnólogo deixa de ser apenas um executor técnico para se tornar um gestor do conhecimento e da eficiência institucional, capaz de mensurar, comparar e elevar continuamente os padrões de entrega do serviço público.
Essa concepção está alinhada ao modelo de accountability pública e meritocracia funcional, fundamentos cada vez mais exigidos pelas diretrizes de modernização da administração pública e pelos órgãos de controle.
O profissional competitivo é aquele que domina indicadores de desempenho, compreende metas institucionais e utiliza ferramentas de análise, como estatísticas criminais, georreferenciamento e avaliação de políticas públicas para produzir inteligência administrativa e operacional.
Trata-se, portanto, de um perfil que agrega mentalidade estratégica, orientação a resultados e capacidade de inovação contínua.
O tecnólogo competitivo sabe interpretar o ambiente interno e externo da instituição, identificar oportunidades de melhoria, eliminar desperdícios e propor soluções sustentáveis.
Sua atuação é marcada pela cultura da eficiência, pela cooperação interinstitucional e pelo uso racional de recursos públicos, sempre em conformidade com os princípios da legalidade e da ética.
Outro traço distintivo desse perfil é a capacidade de liderança adaptativa. O tecnólogo em Segurança Pública é formado para liderar equipes multidisciplinares, mediar conflitos, negociar em situações críticas e gerir crises com serenidade e técnica.
Essa liderança não é apenas hierárquica, mas inspiracional e estratégica, voltada à mobilização de pessoas em torno de objetivos institucionais claros e verificáveis.
No campo epistemológico, o perfil de competidor ancora-se na ciência da decisão aplicada à segurança pública, integrando métodos quantitativos, estudos empíricos e análise de políticas.
O tecnólogo é instigado a competir pela qualidade do diagnóstico e pela precisão da resposta institucional, adotando uma postura investigativa e reflexiva que o distancia do improviso e o aproxima da gestão baseada em evidências (evidence-based policing).
Por fim, o perfil competitivo consolida-se como um instrumento de fortalecimento da legitimidade institucional. Ao buscar resultados mensuráveis: redução de criminalidade, melhoria da percepção de segurança, aumento da confiança social, o tecnólogo contribui diretamente para a consolidação do pacto democrático entre Estado e sociedade, fazendo da eficiência não um fim em si mesmo, mas um meio de concretizar o direito fundamental à segurança pública.
O perfil de competidor, portanto, não se limita à ideia de disputa individual, mas representa a busca permanente pela excelência coletiva, pelo cumprimento eficiente das metas institucionais e pela consolidação da legitimidade social das forças de segurança.
4. A Cultura de Alta Performance e o Ensino Baseado em Competências
A formação tecnológica do curso adota o modelo andragógico, valorizando a experiência prévia dos profissionais que compõem o público-alvo: policiais civis e militares, guardas municipais e agentes da segurança privada.
Essa abordagem reconhece o adulto como sujeito ativo do processo de aprendizagem e potencializa o ensino baseado em competências, no qual o conhecimento é construído por meio da resolução de problemas reais, estudos de caso e simulações práticas.
A metodologia privilegia o desenvolvimento da alta performance profissional, estimulando o estudante a mensurar resultados, avaliar o impacto de suas decisões e aperfeiçoar continuamente os processos institucionais.
Cada módulo curricular é desenhado para integrar teoria, prática e reflexão crítica, formando um profissional que entende a importância de agir com eficiência e de demonstrar resultados objetivos.
Nessa perspectiva, o tecnólogo em Segurança Pública é mais do que um executor de atividades: é um gestor de resultados, capaz de alinhar sua atuação aos indicadores de desempenho organizacional, aos princípios da eficiência administrativa e à cultura de responsabilidade pública. Esse perfil o habilita a competir em igualdade de condições no mercado e dentro das corporações, aplicando o conhecimento científico e tecnológico como instrumento de inovação, legitimidade e excelência operacional.
Em síntese, a formação baseada em competências consolida o perfil de competidor como expressão prática da cultura de alta performance, em que o compromisso com o aprendizado contínuo, a ética e os resultados converte-se no principal diferencial estratégico das instituições de segurança pública contemporâneas.
5. Desafios e Perspectivas Profissionais
O egresso do Curso de Tecnólogo em Segurança Pública encontra amplo campo de atuação em diferentes esferas do setor público e privado. As oportunidades abrangem forças policiais, guardas municipais, empresas de segurança privada, órgãos de defesa civil, instituições de perícia criminal, gestão penitenciária, consultorias especializadas e atividades docentes voltadas à formação e capacitação de agentes de segurança.
Essa versatilidade profissional reflete o caráter interdisciplinar e aplicado do curso, que prepara o tecnólogo para responder a múltiplas demandas do sistema de segurança contemporâneo.
Entretanto, o principal desafio da carreira tecnológica reside na capacidade de manter-se competitivo em um ambiente em constante transformação. O avanço das tecnologias disruptivas, o surgimento de novas modalidades de criminalidade, a digitalização das investigações e a crescente exigência de gestão baseada em evidências impõem ao profissional uma postura de aprendizagem contínua e atualização permanente.
Nesse cenário, o perfil de competidor assume papel decisivo. O tecnólogo precisa combinar flexibilidade cognitiva, domínio técnico e inteligência digital, mantendo-se apto a utilizar ferramentas como georreferenciamento, sistemas de análise de dados criminais, inteligência artificial, mineração de informações e modelagem preditiva.
Essas competências não apenas ampliam a capacidade operacional, mas também consolidam o papel do tecnólogo como especialista em inovação e modernização institucional.
A educação permanente, a interdisciplinaridade e a busca por excelência tornam-se, portanto, condições estruturais da profissão.
O egresso é instado a compreender que a competitividade não se expressa na disputa individual, mas na contribuição efetiva para a melhoria do desempenho coletivo e da qualidade do serviço público.
Assim, os desafios profissionais convertem-se em oportunidades de crescimento, e as perspectivas apontam para um novo paradigma de atuação em segurança pública, pautado pela eficiência, pela inteligência e pela legitimidade social.
6. Conclusão
O Curso de Tecnólogo em Segurança Pública consolida-se como uma das mais relevantes inovações na formação de profissionais voltados à gestão da segurança no Estado Democrático de Direito. Seu projeto pedagógico alia o rigor científico à aplicabilidade prática, promovendo uma formação interdisciplinar capaz de transformar o conhecimento em resultados mensuráveis.
Trata-se de uma proposta educacional alinhada às demandas do século XXI, em que a eficiência, a ética e a inovação são parâmetros de legitimidade e não apenas de produtividade.
O perfil de competidor, núcleo identitário do curso, redefine a atuação do profissional de segurança pública. Esse perfil ultrapassa a dimensão operacional e assume caráter estratégico e gerencial, capacitando o egresso a planejar, executar e avaliar políticas, programas e ações de segurança com base em dados e evidências.
O tecnólogo formado sob essa perspectiva não compete por posições, mas por padrões de excelência, adotando a racionalidade técnica, o comportamento ético e a cultura de resultados como pilares de sua identidade profissional.
A cultura de alta performance e o ensino baseado em competências complementam essa formação, valorizando a experiência profissional do aluno e direcionando o aprendizado para a resolução de problemas reais.
O processo formativo estimula a autonomia intelectual, a inovação contínua e o domínio das ferramentas tecnológicas aplicadas à segurança pública, elementos indispensáveis à construção de um profissional competitivo, adaptável e socialmente responsável.
Ao mesmo tempo, os desafios da profissão tecnológica exigem do egresso compromisso com a educação permanente e a inteligência adaptativa. O avanço da criminalidade digital, o uso crescente de tecnologias de vigilância e a complexidade das dinâmicas sociais impõem ao tecnólogo a necessidade de constante atualização técnica, analítica e ética.
Nesse contexto, a competitividade não se traduz em rivalidade, mas em aperfeiçoamento institucional e valorização do serviço público.
Em síntese, o curso forma um profissional capaz de competir pela qualidade da entrega, pela inovação nos processos e pela legitimidade na ação.
O tecnólogo em Segurança Pública é o novo protagonista de uma administração pública orientada por desempenho, transparência e responsabilidade social. Sua atuação contribui para o fortalecimento das instituições, para a redução da criminalidade e, sobretudo, para a consolidação de uma segurança pública inteligente, eficiente e cidadã.
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