
André Luís Luengo – Doutor em Direito Constitucional e Delegado de Polícia
Resumo
O presente artigo discute a relevância da formação em Tecnologia em Segurança Pública, com ênfase em sua empregabilidade e na importância estratégica da função para o Estado e a sociedade. A análise parte da compreensão da segurança pública como direito fundamental, estabelecido pela Constituição Federal de 1988, e avança para os desafios contemporâneos enfrentados no campo da prevenção e repressão à criminalidade. Evidencia-se que o tecnólogo, formado em curso superior, possui perfil multidisciplinar que o capacita a atuar tanto no setor público quanto no privado. Destacam-se ainda a valorização do conhecimento técnico-científico, a possibilidade de inserção em atividades de consultoria, gestão de riscos, segurança patrimonial, inteligência corporativa e apoio à formulação de políticas públicas. A discussão é sustentada por obras de referência acadêmica e relatórios de instituições oficiais como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Conclui-se que a formação tecnológica em segurança pública constitui um caminho estratégico de profissionalização, capaz de integrar ciência, gestão e cidadania.
Palavras-chave: Tecnólogo; Segurança Pública; Empregabilidade; Políticas Públicas.
Introdução
A segurança pública ocupa posição de destaque nas agendas governamentais e sociais, sendo reconhecida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 como dever do Estado e direito fundamental do cidadão. Nesse cenário, a formação de profissionais especializados torna-se essencial para a construção de políticas efetivas de prevenção e enfrentamento à criminalidade.
O curso de Tecnólogo em Segurança Pública surge como uma alternativa inovadora de formação superior, caracterizada pela abordagem multidisciplinar, contemplando disciplinas de Direito, Administração, Sociologia, Psicologia, Criminologia e Tecnologias aplicadas à segurança.
A indagação que norteia este estudo é: por que ser tecnólogo em segurança pública?
1. Perfil Acadêmico e Formação Multidisciplinar
O tecnólogo em segurança pública transita entre diferentes áreas do saber.
Segundo Lakatos e Marconi (2017), a pesquisa científica e o planejamento metodológico são instrumentos indispensáveis à produção de conhecimento. Aplicados ao campo da segurança pública, permitem que o tecnólogo não seja apenas executor de rotinas, mas analista capaz de propor soluções baseadas em evidências.
Severino (2016) destaca que a metodologia do trabalho científico é ferramenta de construção de práticas acadêmicas sólidas, imprescindíveis para cursos tecnológicos.
Isto demonstra a sólida formação desse profissional.
A formação do tecnólogo é multidisciplinar, abrangendo disciplinas como Metodologia Científica, Gestão Pública, Direito Penal e Processual Penal, Criminologia, Sociologia da Violência, Políticas Públicas de Segurança e Técnicas de Investigação e Inteligência Policial. Esse conjunto de saberes confere ao egresso uma visão ampla e integrada, articulando teoria e prática, planejamento e execução, ciência e ação.
Segundo Lakatos e Marconi (2017), uma dessas disciplinas, a pesquisa científica e o planejamento metodológico constituem instrumentos indispensáveis à produção de conhecimento e ao desenvolvimento profissional.
Aplicados ao campo da Segurança Pública, esses princípios permitem que o tecnólogo atue não apenas como executor de procedimentos operacionais, mas também como analista crítico, capaz de interpretar dados criminais, compreender contextos sociais e propor soluções baseadas em evidências empíricas.
Conforme destaca Severino (2016), a metodologia do trabalho científico é ferramenta essencial para consolidar práticas acadêmicas sólidas, especialmente em cursos tecnológicos que exigem rigor técnico e reflexividade crítica.
Assim, o tecnólogo em segurança pública desenvolve habilidades que o qualificam como profissional capaz de analisar cenários criminais, planejar ações estratégicas e avaliar resultados de políticas públicas, utilizando métodos científicos e ferramentas de gestão.
Em síntese, o perfil acadêmico do tecnólogo em segurança pública alia formação científica e atuação prática, permitindo-lhe atuar de forma eficiente na gestão de recursos humanos e materiais, no planejamento operacional, na prevenção criminal e na coordenação de projetos de segurança, sempre com base em dados, evidências e no compromisso ético com a sociedade.
Essa integração entre teoria e prática representa o núcleo da formação tecnológica contemporânea e consolida o papel desse profissional como elo entre o conhecimento acadêmico e a aplicação concreta das políticas de segurança pública.
2. Empregabilidade e Inserção no Mercado
O 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2025) evidencia a crescente demanda por profissionais especializados em gestão de segurança.
A atuação do tecnólogo pode se dar no setor público e privado, ampliando as possibilidades de empregabilidade em funções administrativas, consultorias, segurança patrimonial, auditoria de riscos e inteligência corporativa.
O tecnólogo em Segurança Pública é um profissional de nível superior (Resolução CNE/CP nº 3/2002; Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia – MEC) preparado para atuar em diferentes segmentos da segurança.
O tecnólogo pode atuar em apoio técnico, planejamento, inteligência, estatística e gestão administrativa junto às instituições integrantes do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) — Lei nº 13.675/2018.
As possibilidades de atuação nos órgãos públicos, na maioria dos casos por processo seletivo mediante concurso público são:
- Polícia Civil: apoio à gestão de unidades, controle de indicadores, estudos de criminalidade, planejamento operacional, estatística criminal e otimização de processos investigativos;
- Polícia Militar: planejamento estratégico, análise criminal, instrução em segurança cidadã e prevenção situacional.
- Corpo de Bombeiros e Defesa Civil: gestão de riscos, planos de contingência, capacitação em emergências e prevenção de desastres.
- Guarda Civil Municipal: coordenação de patrulhas comunitárias, análise territorial, planejamento de rondas preventivas e gestão de convênios com o Estado.
Na iniciativa privada, o tecnólogo encontra amplo campo de trabalho no setor, especialmente em corporações que exigem gestão técnica de segurança patrimonial, de pessoas e de informação.
Dentre os segmentos, há as seguintes áreas de inserção:
- Empresas de segurança privada: gestor operacional, supervisor de segurança, auditor de procedimentos, instrutor de formação;
- Instituições financeiras e grandes empresas: coordenador de segurança corporativa, gestor de risco e compliance, analista de vulnerabilidades e prevenção de perdas;
- Transporte de valores, logística e escolta: responsável técnico por rotas, controle de risco e protocolos de segurança; e
- Eventos e infraestrutura crítica: coordenação de planos de evacuação, segurança de público e resposta a incidentes.
Um outro campo com procura para os profissionais tecnólogos em segurança pública é o da: Consultoria, Auditoria e Compliance em Segurança.
Empresas e órgãos públicos têm buscado consultores especializados em conformidade legal, auditoria de processos e ética corporativa, áreas nas quais o tecnólogo pode atuar com destaque.
Nessa área poderá atuar com:
- Consultoria em segurança patrimonial e cibernética;
- Auditoria de procedimentos de segurança;
- Implementação de políticas de compliance e governança em segurança; e
- Análise de riscos e fraudes em ambientes corporativos.
O tecnólogo em Segurança Pública é um profissional versátil e indispensável na estrutura moderna da segurança, podendo atuar na esfera estatal, corporativa e social, sempre com enfoque técnico, ético e analítico.
3. Relevância Social da Função
O tecnólogo assume papel estratégico, articulando gestão e cidadania.
Beato (2012) ressalta que a criminologia aplicada ao contexto brasileiro exige profissionais preparados para compreender não apenas as estatísticas, mas os fatores sociais que geram violência.
O Atlas da Violência (IPEA; FBSP, 2025) aponta que regiões que investem em planejamento e gestão estratégica de segurança apresentam maior redução nos índices criminais.
Na dimensão ética e pedagógica da segurança pública como instrumento de formação cidadão, cito a autora Costa (2025): “a legislação pode atuar como instrumento pedagógico de transformação social, educando o cidadão para a convivência ética e democrática.”.
Essa perspectiva se alinha à formação do tecnólogo em segurança pública, cuja atuação integra a legalidade e a educação social como pilares da cidadania.
A relevância social do tecnólogo em Segurança Pública reside em sua capacidade de unir técnica, ciência e cidadania para promover uma sociedade mais segura, justa e democrática.
Ele atua como elo entre o conhecimento científico e a ação estatal, traduzindo diagnósticos, dados e teorias em políticas efetivas de segurança e prevenção.
Sua presença nas instituições e nos territórios reforça o princípio de que a segurança é um bem público, e que sua promoção deve ocorrer com base em planejamento, ética, legalidade e respeito à dignidade humana.
Assim, o tecnólogo cumpre um papel essencial não apenas na estrutura da administração pública, mas também na construção da paz social e no fortalecimento do Estado Democrático de Direito.
4. Continuidade Acadêmica
O título de tecnólogo confere grau superior, permitindo progressão acadêmica em cursos de especialização, mestrado e doutorado.
O tecnólogo pode atuar no campo acadêmico e científico, sobretudo em instituições que desenvolvem estudos sobre violência, criminalidade, políticas de segurança e direitos humanos.
Na seara do processo de ensino aprendizagem, poderá:
- Ensino técnico e superior: docência em disciplinas de segurança, cidadania, prevenção à violência, políticas públicas e ética profissional;
- Pesquisa científica: integração a núcleos de estudos criminais, observatórios de segurança e projetos de avaliação de políticas públicas; e
- Extensão comunitária: coordenação de ações sociais, campanhas de prevenção e programas de educação cidadã.
Martins (2019) observa que a formação metodológica adequada amplia as possibilidades de inserção do profissional na pesquisa e na docência, consolidando a segurança pública como área científica autônoma.
Conclusão
Ser Tecnólogo em Segurança Pública significa assumir um papel de mediação entre teoria e prática, ciência e gestão, Estado e sociedade.
A carreira garante empregabilidade diversificada, tanto nas instituições públicas de segurança e justiça, quanto em organizações privadas, consultorias e projetos sociais, ampliando as possibilidades de atuação profissional.
Esse profissional é preparado para analisar dados, interpretar indicadores criminais, planejar ações preventivas e propor soluções baseadas em evidências científicas, contribuindo diretamente para a eficiência das políticas públicas e para a redução das vulnerabilidades sociais.
Sua formação multidisciplinar abrange aspectos jurídicos, sociológicos, administrativos, tecnológicos e éticos, promovendo uma visão sistêmica e humanista da segurança.
Em tempos de crescente complexidade social e tecnológica, o Tecnólogo em Segurança Pública não é apenas um executor de tarefas operacionais, mas um profissional estratégico, dotado de competências analíticas, capacidade de gestão de riscos, planejamento integrado e atuação interinstitucional.
É um agente de articulação entre diferentes esferas do poder público e da sociedade civil, capaz de dialogar com áreas como educação, saúde, urbanismo e direitos humanos, reconhecendo que a segurança pública é um valor coletivo e um direito fundamental.
A sua formação prepara-o para pensar estrategicamente a segurança como política pública, e não apenas como atividade repressiva, consolidando o papel desse profissional como elo entre o conhecimento científico e a prática institucional.
Assim, o Tecnólogo em Segurança Pública contribui para a construção de uma cultura de gestão baseada em evidências, respeito à legalidade e fortalecimento da cidadania, reafirmando o compromisso ético do Estado com a promoção da paz social e da justiça.
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